sábado, 13 de fevereiro de 2010

LOUCA

LOUCA

Quando a louca era grávida
E de poesia
Transbordava luz e néctar
Nas tardes de abril
Moços famintos vinham sugar.

E quando fortes partiam
Horizontes adentram
Sozinha ficava na margem do rio
Deitada no barco exaurida
Os dias transcorriam
Entre fendas de seios murchos
Balanço das águas
E crepúsculos de abril sem asas

E foi agora já velha e cansada
Da louca brotam rebentos esquálidos,
Versos de estrebuchos tortos
Nascidos do abandono da presença
Em colcha de palavras
A lhe cobrir as vergonhas

Mãe

Mãe,
(participação de Antônio de Souza)

Não conversamos sobre os filmes:
Godart
Fellini
Glauber Rocha
Não lhe mostrei as obras de Picasso
Cézanne
Di Cavalcanti
Portinari
Nunca falamos sobre Sartre
Simone de Beauvoir
Nem ouvimos Bach, Beethoven,
Chiquinha Gonzaga ou as bachianas de Villa Lobos
Quantas vezes ouvimos,
Cada uma em seu canto,
Franck Sinatra,
Tom Jobim
Elis Regina
Dolores Duran



Mãe.
Agora que partiu quero conversar
Mas nem em sonhos vem estar comigo
Penso ocupada
Explicando aos grandes artistas
O ofício de ser mãe
Essa magia
Que tudo transforma
Em cor e som
Luz
Poesia
Sem fama.

sábado, 16 de maio de 2009

Quando dei por mim
Havia vencido as reticências
O amor a me invadir
Dando sentido às diferenças
O meu saber
luz da sua experiência
Sua forma de sobreviver
Estratégia para minha existência
Sua rebeldia
fruto das suas vivências
Um solo fértil
Para plantar poesia
E assim vamos vivendo
Minha meiguice
remédio para seus percalços
Sua persistência
Bálsamo para eus machucados.
Juntos somos mais
Serenidade na diversidade
Equilíbrio nas divergências
Conflito e paz.